quarta-feira, 30 de março de 2016



Não tinha muito tempo para ficar pensando em sexo, uma vida corrida, tanto prato para lavar, sabia o mínimo, deitava na cama, ele por cima. Vinte minutos no máximo até não aguentar mais, um cheiro de podre, uma pele suja. Você bebeu não foi, José? Agora não, agora não. Tudo aquilo no meio dos mesmos movimentos de vai-e-vem, a cama escandalosíssima, Pedrinho lá no outro quarto dormindo. Vai com calma, Zé. Tão cansada, enfadada daquele mesmo ritual toda noite, lembrou-se de Amarilda, ai! Como ela queria: as coxas, o entorno do pescoço fino, as ancas belíssimas. Amarilda também queria porque ela sabia, aquele olhar da semana passada na quitanda do seu Ernesto. Rum! Amarilda é sapatão, menina. Carmem tinha confirmado. E sabe chupar gostoso, melhor do que homem original. José em cima dela quase gritou, interrompeu os pensamentos,se contorcendo todo, ridículo. Vou gozar, vou gozar. Goza, desgraçado, e sai logo de cima de mim, pensou. Ahhhhhhhh, gozei! Sai, zé, de cima de mim. Acabou. Cambaleou até o banheiro da cozinha, doida pra se lavar e voltar pra cama, amanhã cedo levar Pedrinho no posto pra saber daquela gripe que não passa. Cof! Cof! Vixe! Era o que faltava. Até ela tossia agora. Voltou a pensar naquela outra. As palavras de Carmem ainda na cabeça. Que Amarilda era sapatão todo mundo sabia. Assim como sabiam também do caso que ela teve com a filha de seu Manoel, as duas se enrabicharam nas vésperas do casamento da menina. Depois a família, para esconder o sucedido, espalhou que o noivo, coitado, era que não prestava. Imagina se filha de seu Manoel, bem cuidada e criada, daria pra sapatão. Ninguém aceitaria. Abriu o chuveiro, a água foi tirando o ranço de cachaceiro. uhn, uhn, uhn. Lembrou outra vez do encontro casual na quitanda. Amarilda oferecendo ajuda para levar as sacolas. Deixa eu ajudar, flor. É caminho de minha casa... Carece não, mulher. Tá leve e eu ainda vou passar na casa de Carmem. A voz: calma como a água que caía do chuveiro... Veio aquela vontade conhecida de! ahhhhhhhhhhh... Pensou, como das últimas três vezes, em Amarilda: boca, voz, ancas, língua, coxas, pescoço. e gozou também. Muito mais que José, coitado. Fechou o chuveiro. Ouviu o desgraçado gritando. Traz água pra mim aí. Vai acordar Pedrinho, HOMEM. E falou 'homem' como quem fala corno. Voltou para o quarto: a água na mão e uma certeza na cabeça: assim que amanhecesse e José fosse trabalhar,procuraria Amarilda. A tosse de Pedrinho a gente cura com remédio caseiro. No posto nunca tem médico mesmo. Ela que não poderia esperar mais, afinal remédio caseiro não resolveria sua situação e estava cansadíssima de tomar toda noite o mesmo xarope branco e azedo de José.





16 de Março de 2015
Mateus Lima

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