"Fomos serenos num mundo veloz"
Machado
escreveu uma história que poderia ter sido a nossa, por isso depois de ler
aquele conto minha garganta secou. Seria
assim, se não tivesse sido como foi, pensei antes de fechar o livro.
A
alegria de carregar aquele sentimento lírico nos braços, ah! E a leveza única
de morar no hall de outra alma, outra casa, outro campo desconhecido, um
paraíso sereno: a tua alma arrumada, a tua casa perfumada, o teu campo deserto,
onde eu ficaria te pertencendo ad
infinitum.
Chegamos
bem perto do lugar onde esses outros tolos tanto almejam chegar e dão as vidas
pesadas inutilmente. Nossos pés na relva do jardim estrelado onde, solitárias,
as estrelas costumam sentar para falar de bons sentimentos e proteger de lá de
cima aqueles amantes que ainda se atrevem a contemplar a beleza poética de
noites enluaradas como a que passamos juntos.
Vivemos
na porta do paraíso e construímos um próprio: o paraíso de nós dois, tristemente desmanchado pelo ar.
No
momento em que o vento leste começou a soprar mais forte, eu quis te prender a
mim, guardar na pele o teu arrepio, no pulmão o teu cheiro, segurar a tua mão e
fugir de vez para aquele outro mundo que nos esperava, cheio de cor, flor, sabor,
calor.
Mas
a ventania sem razão, sempre mais forte do que eu, te carregou, te levou de
mim, de nós, do que seríamos.
O
vento deixou a marca presente da tua ausência, mais poética do que o verão do soneto
18 e mais triste do que amores esquecidos na gaveta do tempo. Porém os ventos dessa
nova estação me trouxeram hoje a lembrança do teu perfume, único, inconfundível
e quase alucinógeno. Eu, inebriado pelo teu cheiro, sempre vou lembrar-me da
sensação de estar contigo, de ter ainda nos lábios o gosto cálido do beijo
último.
Pela
leveza do nosso tempo, brindemos o nosso quase grande amor.
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