domingo, 25 de agosto de 2013

SOBRE A CONSTRUÇÃO E A DESTRUIÇÃO DO PARAÍSO DE NÓS DOIS

"Fomos serenos num mundo veloz"

Machado escreveu uma história que poderia ter sido a nossa, por isso depois de ler aquele conto minha garganta secou. Seria assim, se não tivesse sido como foi, pensei antes de fechar o livro.

A alegria de carregar aquele sentimento lírico nos braços, ah! E a leveza única de morar no hall de outra alma, outra casa, outro campo desconhecido, um paraíso sereno: a tua alma arrumada, a tua casa perfumada, o teu campo deserto, onde eu ficaria te pertencendo ad infinitum.

Chegamos bem perto do lugar onde esses outros tolos tanto almejam chegar e dão as vidas pesadas inutilmente. Nossos pés na relva do jardim estrelado onde, solitárias, as estrelas costumam sentar para falar de bons sentimentos e proteger de lá de cima aqueles amantes que ainda se atrevem a contemplar a beleza poética de noites enluaradas como a que passamos juntos.

Vivemos na porta do paraíso e construímos um próprio: o paraíso de nós dois, tristemente desmanchado pelo ar.

No momento em que o vento leste começou a soprar mais forte, eu quis te prender a mim, guardar na pele o teu arrepio, no pulmão o teu cheiro, segurar a tua mão e fugir de vez para aquele outro mundo que nos esperava, cheio de cor, flor, sabor, calor.

Mas a ventania sem razão, sempre mais forte do que eu, te carregou, te levou de mim, de nós, do que seríamos.

O vento deixou a marca presente da tua ausência, mais poética do que o verão do soneto 18 e mais triste do que amores esquecidos na gaveta do tempo. Porém os ventos dessa nova estação me trouxeram hoje a lembrança do teu perfume, único, inconfundível e quase alucinógeno. Eu, inebriado pelo teu cheiro, sempre vou lembrar-me da sensação de estar contigo, de ter ainda nos lábios o gosto cálido do beijo último.

Pela leveza do nosso tempo, brindemos o nosso quase grande amor.

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