quinta-feira, 13 de junho de 2013

SOBRE O DIA DE INVERNO MAIS QUENTE DO HEMISFÉRIO PASSIONAL


                                                                                           22 de Julho de 2012



Agora olhando pra trás eu consigo me lembrar de tudo, como se tudo tivesse acontecido ontem ou como se as cenas de nós dois fizessem parte do meu filme favorito.

Você chegou naquele inverno e lá fora fazia tanto frio. Sentou no sofá da sala e me pediu um cigarro. Eu não tinha. Os olhos estavam vermelhos – tão obstinados - e você mantinha as mãos por entre as pernas enquanto se sacudia indo para frente e para trás continuamente. Havia uma agonia na tua presença e o meu peito foi se enchendo de algum sentimento corrosivo. Até que.

Eu li a mensagem – A voz saiu rouca – E vim aqui pra te dizer que...

[Nesse momento eu entrei numa dessas espécies de realidade paralela, não escutava nada além do silêncio de minhas próprias palavras que gritavam dentro da minha cabeça. Que você tinha lido eu sabia, e sabia também que era esse o motivo da tua visita às 23:56h da noite. A mensagem enviada uma hora antes, num êxtase de coragem, dizia aquilo tudo que assim, cara a cara; coração a coração, nunca seria dito por mim. Mas minha coragem se perdeu ao ouvir a tua voz rouca. Minha vida sempre foi esse desalinho, você sabe... E não seria difícil que eu estivesse fazendo confusão em relação a nós. Você diria então: M, você está confundindo as coisas. Sobre a mensagem, eu te amo eram as últimas três palavras. O que vinha antes era uma longa história. Ainda flutuando no corredor de meus pensamentos, escutei você tossir e voltei a realidade em tempo de te ouvir dizer]

-Eu também te amo. Sempre foi assim.

E então o teu calor congelou a distância que havia entre nós e eu finalmente pude sentir o gosto do teu hálito misturado ao meu. Aquele foi o dia mais quente de todo o inverno.

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