sábado, 29 de junho de 2013

SOBRE A LIBERDADE DE SER FILHA DE IEMANJÁ

“A sua guia, o seu colar de conta
Dona menina não saia da roda
Você quando samba chove flor no mar
Com tanta flor você fica cheirosa
Parece rosa
Da roseira de Sinhá
(Roque Ferreira)


O amarelo, elo da loucura, sempre foi o tom que combinava com os seus momentos mais ébrios. O vestido alegre rodando em um doce êxtase. A pele, vasto campo dos pelos ouriçados, queimando ao sol ardente, dourando, embelezando, altar máximo de desejo dos poetas. Seus pés, belíssima expressão da inocência juvenil, tamanho justo, tudo-no-lugar,

os pés dançavam mesmo por cima das duras pedras do chão, mesmo por cima das duras pedras da vida, mesmo por cima da vida, mesmo quando o rosto era marcado pelo rastro da tristeza-insistente nas inconvenientes visitas do que já era passado,

Olhos castanhos, pequenos, quase fechados, contornados pelo enigma de deixar-se envolver ou sucumbir. Os olhos eram a prisão dos maldosos – limitados – que sempre a quiseram segurar, prender, botar nos trilhos, como diziam.

Ela era o líquido que eles queriam ter sólido nas mãos, a fruta vermelha de difícil alcance, a flor de maior representação primaveril.

Querem te botar feitiço, morena, mas também pudera!

Nenhum mal pegava. Toda sexta-feira ela ia lá, vestida de paz, descia a ladeira, para agraciar o orixá de frente, pedir proteção e abertura de caminhos. Menina de Iemanjá aprendeu a sambar, cantar e viver, nas ondas do mar Bahia, onde cresceu e se tornou mulher.

–Deixem-na rodar, deixem-na viver. Que as tentativas de entender a sua dança cessem. Quebrem as gaiolas, não tomem nunca de assalto o encanto do que é livre – dizia a própria Deusa Mãe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário